Na primeira vez que escrevi sobre "How Do You Think I Feel" eu afirmei que essa música tinha claros contornos latinos em sua harmonia. Há algum tempo li que seu autor, Webb Pierce, estava em férias no México quando a compôs. Assim tudo fica devidamente explicado. Quando o disco foi lançado originalmente em 1956 ninguém deu muita atenção para essa faixa. Nenhum crítico perdeu seu tempo em analisá-la devidamente, até porque o álbum já tinha tantos clássicos do rock para chamar a atenção.
Ficar na sombra foi uma vocação natural para essa gravação. De minha parte gosto de sua sonoridade. O arranjo é simples, nada parecido com o que se ouviria anos depois em trilhas sonoras como "Fun in Acapulco" (O Seresteiro de Acapulco de 1963), mas mantinha um arranjo agradável aos ouvidos. Também acabou se tornando uma música exclusiva de estúdio, nunca cantada por Elvis nos palcos.
O compositor Joe Thomas criou a ótima "Anyplace is Paradise". Essa faixa poderia ter sido melhor trabalhada pela RCA Victor pois em minha visão tinha muito potencial para se tornar um hit nos anos 50. Só que a gravadora de Elvis não pensou dessa forma e a música foi relegada a ser um autêntico "Lado B" da discografia do cantor. Isso porém não a desmereceu em nada. O grupo de Elvis aqui se destaca, em especial o guitarrista Scotty Moore, que teve uma excelente oportunidade para desfilar seu repertório de solos. Outro destaque é o piano de Marvin Hughes. Nos tempos da Sun Records não havia piano nas gravações. Quando Elvis foi para a RCA Victor o produtor Steve Sholes determinou que uma banda completa iria ficar à disposição de Elvis. Isso trouxe um conjunto de belos arranjos para seus discos. Ficou muito bom, mais encorpado, mais bem trabalhado.
Certa vez, durante uma entrevista, Raul Seixas citou "Paralyzed" como uma de suas músicas preferidas de Elvis. O roqueiro brasileiro entendia mesmo da discografia de seu ídolo, pois só quem era familiarizado muito bem com seus discos dos anos 50 poderia citar essa faixa com tamanha convicção. O que podemos ainda dizer sobre essa canção? È uma das letras mais maliciosas de Elvis, isso numa época em que estavam pegando em seu pé por causa de seus rebolados na TV. Ela foi gravada nos estúdios logo depois da baladona "Old Shep". Depois de todo aquele drama nostálgico Elvis procurou por algo mais relaxante, para deixar o stress de lado. E a música serviu perfeitamente aos seus propósitos. O Elvis que ouvimos aqui parece completamente à vontade para cantá-la.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
domingo, 16 de novembro de 2025
Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 4
Elvis não colocava muita fé em sua carreira em seus anos iniciais. Quando um repórter perguntou a ele o que estaria fazendo dali a dez anos, Elvis pensou um pouco e respondei: "Não sei! Acho que vou abrir uma loja de carros usados ou algo assim". Diante da resposta incomum o jornalista quis saber se Elvis não se via cantando no futuro ao que ele deixou a entender que não pois "cantores surgem e somem com rapidez".
De qualquer maneira naquele distante ano de 1956 Elvis vivia um dos melhores momentos de sua vida pessoal e artística. Sua mãe Gladys estava viva, ele curtia a onda de sucesso de seus discos e tinha assinado como uma grande gravadora, a RCA Victor. O que poderia estar faltando? Basicamente nada. Era só questão de gravar bons discos e seguir em frente com o mesmo sucesso.
Nesse momento ele também recebeu o título de "Rei do Rock". O curioso é que Elvis não gostava de ser chamado de Rei. Para ele apenas Jesus Cristo poderia ser chamado de Rei, no caso de "Rei dos Reis", conforme o título de um filme épico de sucesso da época. Aproveitando de toda a onda dessa nova música a RCA por sua vez queria que Elvis gravasse cada vez mais rocks, um atrás do outro, pois era esse tipo de gravação que andava vendendo muito por todo o país. Elvis cedeu e gravou "Ready Teddy", um rock visceral composto pela dupla Robert Blackwell e John Marascalco. A música era dinamite pura e Elvis foi encorajado para apresentá-la ao vivo em sua apresentação na TV. A performance do jovem roqueiro com cabelo cheio de brilhantina causou grande comoção em todo o país. Os mais velhos odiaram. Os mais jovens amaram. No meio de toda a polêmica que se seguiu Elvis ficou ainda mais famoso.
"Long Tall Sally" foi outro rock de raiz gravado por Elvis nesse LP. Era uma original de Little Richard, que anos depois disse estar honrado de ter ouvido uma de suas músicas gravadas pelo garoto de Memphis. Era algo especial. Isso também colocava por terra aquela velha narrativa de que Elvis seria um ladrão da cultura negra. Um branco bonitão que colocou as mãos nas músicas compostas pelos primeiros roqueiros negros e depois ficou rico e famoso com elas. Na verdade o próprio Richard desmentiria isso, dizendo que o fato de Elvis ter gravado sua música o teria lhe ajudado muito naqueles tempos pioneiros. Era um ato de colaboração, ajuda e amizade e não de exploração como muitos quiseram fazer crer anos depois.
Pablo Aluísio.
De qualquer maneira naquele distante ano de 1956 Elvis vivia um dos melhores momentos de sua vida pessoal e artística. Sua mãe Gladys estava viva, ele curtia a onda de sucesso de seus discos e tinha assinado como uma grande gravadora, a RCA Victor. O que poderia estar faltando? Basicamente nada. Era só questão de gravar bons discos e seguir em frente com o mesmo sucesso.
Nesse momento ele também recebeu o título de "Rei do Rock". O curioso é que Elvis não gostava de ser chamado de Rei. Para ele apenas Jesus Cristo poderia ser chamado de Rei, no caso de "Rei dos Reis", conforme o título de um filme épico de sucesso da época. Aproveitando de toda a onda dessa nova música a RCA por sua vez queria que Elvis gravasse cada vez mais rocks, um atrás do outro, pois era esse tipo de gravação que andava vendendo muito por todo o país. Elvis cedeu e gravou "Ready Teddy", um rock visceral composto pela dupla Robert Blackwell e John Marascalco. A música era dinamite pura e Elvis foi encorajado para apresentá-la ao vivo em sua apresentação na TV. A performance do jovem roqueiro com cabelo cheio de brilhantina causou grande comoção em todo o país. Os mais velhos odiaram. Os mais jovens amaram. No meio de toda a polêmica que se seguiu Elvis ficou ainda mais famoso.
"Long Tall Sally" foi outro rock de raiz gravado por Elvis nesse LP. Era uma original de Little Richard, que anos depois disse estar honrado de ter ouvido uma de suas músicas gravadas pelo garoto de Memphis. Era algo especial. Isso também colocava por terra aquela velha narrativa de que Elvis seria um ladrão da cultura negra. Um branco bonitão que colocou as mãos nas músicas compostas pelos primeiros roqueiros negros e depois ficou rico e famoso com elas. Na verdade o próprio Richard desmentiria isso, dizendo que o fato de Elvis ter gravado sua música o teria lhe ajudado muito naqueles tempos pioneiros. Era um ato de colaboração, ajuda e amizade e não de exploração como muitos quiseram fazer crer anos depois.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 3
Uma das músicas preferidas de Elvis nesse disco era a balada sentimental "Old Shep" de Red Foley. Elvis a cantava desde quando era um garotinho em Memphis. Inclusive essa foi a primeira música que Elvis cantou em um palco na sua vida, quando ainda era bem jovem e participava de um programa de calouros numa feira de gado, típico evento popular em sua cidade.
Outro fato que chama a atenção nessa faixa é que ele tem mais de 4 minutos de duração, o que fugia do padrão da época. As músicas geralmente tinham apenas dois minutos ou um pouco acima disso. Era uma duração ideal para tocar nas rádios. Além do mais a gravação ficou com uma sonoridade que lembrava em muito seus anos na Sun Records. Teria sido algo proposital? Não sabemos ao certo.
"First In Line" era outra balada romântica. Essa, ao contrário de "Old Shep", não tinha ligação com o passado de Elvis. Na realidade era uma boa produção da "fábrica" de criação da RCA Victor. A companhia, como se sabe, mantinha equipes de compositores prontos para criarem qualquer música, sempre que a gravadora solicitasse. Essa faixa foi composta pela dupla Aaron Schroeder e Ben Weisman. Eles se tornariam bem presentes nas trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Weisman, por exemplo, compôs muitas das canções dos filmes de Elvis em Hollywood. Segundo alguns dados chegou a escrever mais de 50 músicas para Presley! Um número bastante significativo.
O produtor e guitarrista Chet Atkins também trouxe sua contribuição para o disco. No estúdio ele apresentou a Elvis a canção "How's The World Treating You". Ele tinha composto a faixa ao lado do parceiro e amigo de Nashville Boudleaux Bryant. Elvis ouviu a música e não demorou muito a se convencer a gravá-la. Foi até curiosa essa escolha, pois nesse momento de sua carreira Elvis se firmava com a imagem de um roqueiro rebelde, um "James Dean de guitarra" como chegou a escrever um jornalista influente de Nova Iorque. Então mais uma balada chorosa contrastava com essa imagem. Porém para quem o conhecia mais de perto não havia surpresa alguma. Elvis era mesmo esse artista com coração, que sempre apreciava esse tipo de som mais sentimental.
Pablo Aluísio.
Outro fato que chama a atenção nessa faixa é que ele tem mais de 4 minutos de duração, o que fugia do padrão da época. As músicas geralmente tinham apenas dois minutos ou um pouco acima disso. Era uma duração ideal para tocar nas rádios. Além do mais a gravação ficou com uma sonoridade que lembrava em muito seus anos na Sun Records. Teria sido algo proposital? Não sabemos ao certo.
"First In Line" era outra balada romântica. Essa, ao contrário de "Old Shep", não tinha ligação com o passado de Elvis. Na realidade era uma boa produção da "fábrica" de criação da RCA Victor. A companhia, como se sabe, mantinha equipes de compositores prontos para criarem qualquer música, sempre que a gravadora solicitasse. Essa faixa foi composta pela dupla Aaron Schroeder e Ben Weisman. Eles se tornariam bem presentes nas trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Weisman, por exemplo, compôs muitas das canções dos filmes de Elvis em Hollywood. Segundo alguns dados chegou a escrever mais de 50 músicas para Presley! Um número bastante significativo.
O produtor e guitarrista Chet Atkins também trouxe sua contribuição para o disco. No estúdio ele apresentou a Elvis a canção "How's The World Treating You". Ele tinha composto a faixa ao lado do parceiro e amigo de Nashville Boudleaux Bryant. Elvis ouviu a música e não demorou muito a se convencer a gravá-la. Foi até curiosa essa escolha, pois nesse momento de sua carreira Elvis se firmava com a imagem de um roqueiro rebelde, um "James Dean de guitarra" como chegou a escrever um jornalista influente de Nova Iorque. Então mais uma balada chorosa contrastava com essa imagem. Porém para quem o conhecia mais de perto não havia surpresa alguma. Elvis era mesmo esse artista com coração, que sempre apreciava esse tipo de som mais sentimental.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 2
Esse segundo álbum de Elvis Presley na RCA Victor foi muito bem gravado. Havia todo um cuidado técnico, até porque Elvis já era naquela altura o maior vendedor de discos da gravadora multinacional. Com isso Elvis também se firmava como o roqueiro número 1 do mundo, um fenômeno de popularidade sem precedentes. Nesse mesmo ano ele começava a ser conhecido pelo mundo afora. Deixava de ser um artista de Memphis e do sul, para ser um artista internacional. Também foi o primeiro disco oficial de Elvis a ser lançado no Brasil, numa edição completamente fiel ao disco americano original.
O apuro técnico dentro do estúdio se refletiu principalmente em faixas como "Rip It Up". Hoje em dia essa composição da excelente dupla formada por Robert Blackwell e John Marascalco é considerada um dos maiores clássicos da história do rock. Uma canção vibrante, que contou com uma performance irretocável por parte de Elvis, que é importante frisar, não passava de um jovem cantor de 21 anos de idade na época. Tão jovem e já tão revolucionário em termos musicais.
O country também não poderia ficar de fora. Afinal Elvis não negava suas origens sulistas. "When My Blue Moon Turns to Gold Again" era uma típica representante do estilo mais rural dentro do álbum. Essa música havia sido composta pelo cantor cowboy Gene Sullivan. Elvis que não queria perder sua público mais fiel, aquele que o acompanhava desde os primeiros shows em Memphis, a escolheu como uma espécie de homenagem a esse tipo de fã. Sim, Elvis abraçava o rock, mas não estava disposto a virar o rosto para o country and western de seus primeiros anos. Assim temos uma boa faixa, bem gravada, com Elvis evocando o antigo estilo de cantar do country de Nashville.
De Arthur Crudup, Elvis trouxe para o álbum a balada blues "So Glad, You're Mine". Para a turma de Nova Iorque, da equipe da RCA Victor na cidade, aquele tipo de sonoridade soava como algo diferente, até mesmo novo. Só que na verdade era uma velha canção, muito popular em bares e espeluncas de Memphis. Elvis a conhecia também do rádio, das estações black de Memphis. Esse aparelho era o principal meio de entretenimento da família Presley, sempre ligado ao fundo. Assim Elvis a conhecia muito bem, por isso também resolveu gravar sua própria versão que ficou excelente, melhor do que qualquer outra já feita, antes ou depois desse disco.
Pablo Aluísio.
O apuro técnico dentro do estúdio se refletiu principalmente em faixas como "Rip It Up". Hoje em dia essa composição da excelente dupla formada por Robert Blackwell e John Marascalco é considerada um dos maiores clássicos da história do rock. Uma canção vibrante, que contou com uma performance irretocável por parte de Elvis, que é importante frisar, não passava de um jovem cantor de 21 anos de idade na época. Tão jovem e já tão revolucionário em termos musicais.
O country também não poderia ficar de fora. Afinal Elvis não negava suas origens sulistas. "When My Blue Moon Turns to Gold Again" era uma típica representante do estilo mais rural dentro do álbum. Essa música havia sido composta pelo cantor cowboy Gene Sullivan. Elvis que não queria perder sua público mais fiel, aquele que o acompanhava desde os primeiros shows em Memphis, a escolheu como uma espécie de homenagem a esse tipo de fã. Sim, Elvis abraçava o rock, mas não estava disposto a virar o rosto para o country and western de seus primeiros anos. Assim temos uma boa faixa, bem gravada, com Elvis evocando o antigo estilo de cantar do country de Nashville.
De Arthur Crudup, Elvis trouxe para o álbum a balada blues "So Glad, You're Mine". Para a turma de Nova Iorque, da equipe da RCA Victor na cidade, aquele tipo de sonoridade soava como algo diferente, até mesmo novo. Só que na verdade era uma velha canção, muito popular em bares e espeluncas de Memphis. Elvis a conhecia também do rádio, das estações black de Memphis. Esse aparelho era o principal meio de entretenimento da família Presley, sempre ligado ao fundo. Assim Elvis a conhecia muito bem, por isso também resolveu gravar sua própria versão que ficou excelente, melhor do que qualquer outra já feita, antes ou depois desse disco.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 1
O segundo disco de Elvis na RCA Victor foi bem mais produzido do que o primeiro. A gravadora ganhou confiança com o trabalho do cantor que já naquela altura havia se tornado o artista mais vendido do selo. Para alguém com vinte e poucos anos era um feito e tanto! Assim o produtor Steve Sholes trouxe para o estúdio mais músicos, mais instrumentos, tudo para melhorar o som do novo álbum.
Em 1956 o principal veículo de promoção de Elvis não foi o cinema (seu primeiro filme ainda nem tinha sido filmado), mas sim a televisão e seus programas de variedades. Bastaram as primeiras apresentações de Elvis na TV para que a polêmica tomasse conta da imprensa.
Falem mal de mim, mas falem de mim - diria o Coronel Parker. Claro, grande parte dos artigos eram críticas ferozes a forma como Elvis cantava e dançava. Para muitos aquilo era sexualizado demais, impróprio para as adolescentes que começavam a curtir Elvis. Hoje em dia a dança de Elvis nesses primeiros programas de televisão aparentam ser apenas giros bem originais de um artista que tentava de alguma forma chamar a atenção para sua música. A cabeça das pessoas dos anos 50 era mesmo bem diferente da nossa. Ecos de um mundo mais conservador e tradicional.
De qualquer forma para Elvis e seu grupo de músicos o importante era fazer um bom trabalho de estúdio. As primeiras músicas do novo disco foram gravadas nos estúdios da RCA na costa oeste. Era o Radio Recorders, localizado em West Hollywood, Califórnia. A primeiro canção não poderia ser mais simbólica, a bela balada "Love Me" de Leiber e Stoller. Nesse mesmo dia Elvis já havia gravado "Playing for Keeps" que seria lançada em single. Para "Love Me" foram necessários 9 takes para que Elvis se desse por satisfeito. O curioso é que anos depois Jerry Leiber explicaria que havia composto a música quase como uma sátira ao estilo country de Nashville. Elvis ignorou essa intenção original do compositor e fez uma grande gravação, uma das melhores e mais memoráveis faixas dessa fase de sua carreira.
Pablo Aluísio.
Em 1956 o principal veículo de promoção de Elvis não foi o cinema (seu primeiro filme ainda nem tinha sido filmado), mas sim a televisão e seus programas de variedades. Bastaram as primeiras apresentações de Elvis na TV para que a polêmica tomasse conta da imprensa.
Falem mal de mim, mas falem de mim - diria o Coronel Parker. Claro, grande parte dos artigos eram críticas ferozes a forma como Elvis cantava e dançava. Para muitos aquilo era sexualizado demais, impróprio para as adolescentes que começavam a curtir Elvis. Hoje em dia a dança de Elvis nesses primeiros programas de televisão aparentam ser apenas giros bem originais de um artista que tentava de alguma forma chamar a atenção para sua música. A cabeça das pessoas dos anos 50 era mesmo bem diferente da nossa. Ecos de um mundo mais conservador e tradicional.
De qualquer forma para Elvis e seu grupo de músicos o importante era fazer um bom trabalho de estúdio. As primeiras músicas do novo disco foram gravadas nos estúdios da RCA na costa oeste. Era o Radio Recorders, localizado em West Hollywood, Califórnia. A primeiro canção não poderia ser mais simbólica, a bela balada "Love Me" de Leiber e Stoller. Nesse mesmo dia Elvis já havia gravado "Playing for Keeps" que seria lançada em single. Para "Love Me" foram necessários 9 takes para que Elvis se desse por satisfeito. O curioso é que anos depois Jerry Leiber explicaria que havia composto a música quase como uma sátira ao estilo country de Nashville. Elvis ignorou essa intenção original do compositor e fez uma grande gravação, uma das melhores e mais memoráveis faixas dessa fase de sua carreira.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 4 de novembro de 2025
Elvis Presley - Elvis (1956)
Elvis (1956) - Segundo disco da carreira de Elvis Presley. Com o sucesso alcançado pelo seu primeiro disco e pelos singles "Heartbreak Hotel / I Was the One", "I Want You, I Need You,I Love You / My Baby Left Me" e "Don't Be Cruel / Hound Dog" Elvis conseguia o feito de emplacar quatro discos consecutivos entre os dez mais, sendo considerado já a aquela altura um fenômeno não só musical e de vendas, mas também social, pois suas apresentações polêmicas em programas de TV lhe traziam cada vez mais popularidade. Todos queriam entender esse novo cantor que surgia. Sem dúvida 1956 foi o grande ano do Rei do Rock, o seu auge. O que faltava a Elvis? Ora, não era preciso ir muito longe para responder a essa questão. Desde criança Elvis tinha um sonho particular: o de se tornar astro de cinema. Tom Parker não perdeu tempo. Logo escalou alguns testes com os grandes chefões de Hollywood e em pouco tempo Elvis já estava estreando no cinema com o filme "Love Me Tender" (ama-me com ternura, 1956).O empresário de Elvis então tomou consciência do tesouro que lhe havia caído nas mãos. Um astro multimídia, que poderia facilmente fazer sucesso não só no mundo musical, mas também no cinematográfico. Elvis era uma mina de ouro. E provou isso, pois além da ótima bilheteria alcançada pelo filme, sua trilha sonora também logo virou um enorme sucesso. O primeiro lugar nas paradas com o single "Love Me Tender / Any Way You Want Me" em novembro de 1956 consolidava de uma vez por todas o potencial comercial do roqueiro galã. Isto era em suma tudo o que estava rolando nesta época com Elvis Presley, ou seja, ele estava no auge de sua popularidade. Assim em setembro de 1956 Elvis entrava novamente nos estúdios para "encher a lata". Sem dúvida ele foi o mais rápido "Hit Maker" da história pois gravou este LP em apenas três dias nos Studios Radio Recorders da RCA em Hollywood.
Ao contrário do disco anterior em que Elvis ainda era considerado uma mera promessa, esse já mostrava um artista mais dono de si e de sua música. Em poucas palavras: Elvis agora teria maior poder de decisão dentro dos estúdios. O LP foi lançado no final de 1956, alcançando facilmente o primeiro lugar nas paradas. Elvis Presley havia começado o ano como um obscuro cantor do sul dos Estados Unidos e terminou como um fenômeno de sucesso em massa, nunca ninguém subiu tão rápido em tão pouco tempo. Fora estes dois discos, Elvis ainda liderava as paradas mundiais também com outros singles de enorme sucesso. O Rei do Rock estava em todos os lugares, não havia uma só revista que não o trazia na capa. No final de 56 Elvis era uma figura totalmente onipresente. Era o começo do sonho dourado de Elvis Aaron Presley, o início da carreira de um dos maiores sucessos da história do show business norte americano. Eis as músicas do LP "Elvis" (LPM 1382):
RIP IT UP (Robert Blackwell / John Marascalco) - Música símbolo do nascimento do Rock gravada por diversos nomes: John Lennon, Everly Brothers, Carl Perkins e Little Richard, daí nota-se sua importância na gênesis do ritmo. A versão de Elvis é muito bem executada com um arranjo peculiar principalmente em seu começo. Elvis a apresentou em alguns programas dos anos dourados com o respectivo rebolado causando mais encrencas ainda para ele. Tente imaginar a comoção causada por um cantor de visual rebelde, balançando a retrógada moralidade dos anos 50. Reparem na letra, cujo conteúdo é tipicamente adolescente, mostrando os "grilos" da juventude da época, utilizando de gírias e do palavreado da juventude de então. Além da deliciosa melodia, o jogo de palavras valoriza ainda mais o conjunto da música.
LOVE ME (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Sem dúvida uma das mais belas criações daquela que sem dúvida foi a mais importante dupla de compositores do Rei. Leiber e Stoller compuseram as mais importantes músicas da carreira de Elvis como "Jailhouse Rock", "Trouble" e "King Creole", entre outras. Esta foi feita especialmente para Elvis pois Leiber e Stoller achavam interessante o apego que Elvis tinha por músicas românticas, então resolveram compor uma canção sob medida para o gosto e a interpretação do cantor. Era uma das preferidas dele, tanto que a integrou em seu repertório nos anos setenta estando presente em quase todos os seus discos gravados ao vivo neste período. Também foi lançada num compacto duplo em outubro de 1956 junto com outras músicas deste LP. A música é uma das mais conhecidas de Elvis dos anos 50, pelo seu romantismo, por sua bela melodia e pela letra apaixonante. Embalou muitos corações apaixonados e serviu de trilha sonora para muitas paixões eternas. Sem dúvida um registro de Elvis em um de seus melhores momentos de estúdio.
WHEN MY BLUE MOON TURNS TO GOLD AGAIN (Willy Walker / Gene Sullivan) - Country cantado por Elvis. Como um garoto nascido e criado no sul rural dos Estados Unidos é lógico que o country sempre fez parte de sua vida e Elvis gravou diversas canções deste estilo ao longo de sua carreira, tendo inclusive gravado um disco conceitual só com músicas deste gênero: "Elvis Country". Mas bem longe do country moderninho desse disco de Elvis dos anos 70, "When my blue moon turns to gold again" era uma canção de raiz, composta por dois artistas típicos de Nashville, a capital do country and western americano. Serve como um exemplo da influência que a arte e a música dessa cidade exerceu sobre a carreira de Elvis desde seus tempos no Louisiana Hayride.
LONG TALL SALLY (Enotris johnson) - Sublime canção de Rock'n'Roll. Esta é outra que marcou toda uma época, sendo posteriormente gravada pelos Beatles e John Lennon (em sua carreira solo). A primeira versão de sucesso veio com o cantor Little Richard. Aqui Elvis está em sua melhor forma mandando ver e abrindo as portas de um novo tempo na música mundial. A letra mistura malícia, ironia e humor, numa combinação que caiu logo no gosto dos jovens americanos. Sem dúvida para esses garotos e garotas que procuravam se soltar das amarras dos pais caretas, a música trazia uma mensagem subentendida que certamente não seria compreendida pelos mais velhos. Um achado para quem queria aproveitar a vida nos moralistas anos Eisenhower. Pode-se encontrar versões ao vivo em discos dos anos setenta, porém sem nenhuma sombra de dúvida esta é a melhor versão de todas, pois foi gravada na época certa. Esta canção juntamente com "Ready Teddy", são as representantes máximas do Rock de Elvis neste trabalho musical. Duas canções que provam de uma vez por todas quem merecia receber o título de "Rei do Rock'n'Roll".
FIRST IN LINE (Aaron Schroder / Ben Weisman) - Baladona romântica escrita por uma dupla de compositores que posteriormente iriam escrever várias canções para os filmes de Elvis. O destaque fica no vocal do Rei expressando toda a emoção da letra. Essa canção, mais do que qualquer outra do disco, nos remete imediatamente aos anos de Elvis na Sun. Além do vocal típico da gravadora de Memphis, que fazia o ouvinte pensar que Elvis estava cantando do fundo de um poço, há ainda a guitarra de Scotty Moore afinada no mais puro "Sun Sound". A única coisa que não condiz com as músicas gravadas por Elvis nos estúdios de Sam Phillips é justamente o acompanhamento vocal do grupo gospel The Jordanaires, que diga-se de passagem acrescenta muito no resultado final. Um bom momento "Love Affair" de Elvis. Para românticos inveterados.
PARALYZED (Otis Blackwell) - Canção dançante e empolgante dentro do repertório de Elvis. Não chega a ser um rock e sim uma música pop despretensiosa (mas ótima!). Outra que Elvis apresentou em programas de TV nos anos 50. Blackwell é autor de uma das mais populares músicas de Elvis: "Don't Be Cruel". Novamente outra que procura captar o vocabulário da juventude. É uma verdadeira crônica que mostra os costumes e sonhos adolescentes da moçada. Uma das preferidas do roqueiro Raul Seixas, que em entrevista, afirmou que os termos usados na canção eram utilizados nos namoros dos anos 50. Belo e descontraído momento do LP.
SO GLAD YOU'RE MINE (Arthur Grudup) - Ao contrário das outras músicas deste disco, esta foi gravada em 30 de janeiro de 1956 nas mesmas sessões de gravação do disco "Elvis Presley", o primeiro LP do cantor. A razão certa pela qual a RCA não a lançou no disco anterior é um mistério. Provavelmente tenha sido arquivada por falta de espaço. De qualquer forma a canção não destoa e nem sai da temática do resto do disco. No final das contas se encaixa bastante bem, até mesmo porque a grande maioria das músicas de Elvis nessa fase de sua carreira rodavam invariavelmente sobre os mesmos temas. Aliás algumas resenhas da época chegaram ao exagero de afirmar que a música era excessivamente "sugestiva e sensual". Moralismo pouco é bobagem! O autor desta canção é o mesmo de "That's All Right" (o primeiro single comercial do cantor). Mais um grande momento do Rei e seus músicos. Veio para acrescentar qualidade em um disco já bastante reconhecido por seus valores artísticos.
OLD SHEEP (Red Foley) - Canção que Elvis apresentou num concurso de talentos em Memphis quando ainda era garoto, tirando o segundo lugar. A temática é reconhecidamente pueril e extremamente sentimental. Com uma narrativa cinematográfica, essa música é completamente diferente das demais do disco, o que a torna única, singular dentro do conjunto da obra. Sem dúvida Elvis acabou se identificando de alguma forma. Talvez pelo valor sentimental ele a tenha incluído no disco. Como destaque temos Elvis no piano e a vocalização perfeita dos Jordanaires, aqui mais presentes do que nunca. Aliás o fato deles estarem no disco demonstra que Elvis era uma pessoa de palavra. Antes de estourar mundialmente Elvis topou com o grupo em alguns shows no sul. Elvis lhes prometeu que assim que sua carreira decolasse ele iria trazê-los para fazer a vocalização de seus discos. Como palavra de Rei não volta atrás... Foi lançada ainda no compacto duplo "Elvis vol 2" em dezembro de 1956.
READY TEDDY (Robert Blackwell/John Marascalco) - Esta canção foi responsável pela mais brilhante aparição de Elvis Presley no programa de Ed Sullivan em 1956. Típico Rock'n'Roll do início dos anos cinqüenta, com vocalização perfeita, embalo à prova de falhas, alegria contagiante e acompanhamento idem, "Ready Teddy" é um dos maiores Rocks da história e a versão de Elvis é simplesmente imortal. Elvis encontrou aqui seu veículo perfeito: ritmo ágil e letra maliciosa. Sua histórica apresentação no Ed Sullivan causou muitos problemas com a censura da época pois Elvis foi severamente criticado no jornal Mirror News que no artigo referente ao show o acusou de "incentivar o libido de garotinhas" e promover a "delinqüência juvenil" chegando a ponto de chamá-lo de "nazista"! Puxa aquilo era demais e Elvis ficou tão chocado que no seu show posterior mandou ver mais do que no primeiro causando maior polêmica ainda. Sem dúvida a América (e o mundo) não estavam preparados para Elvis Presley, no flor da idade, esbanjando sensualidade e agilidade no auge de seus 21 anos!. Com sua dança e perfomance Elvis abria de uma vez por todas as portas da nova era! O Rock'n'Roll vinha para ficar! Por causa desse show Elvis acabou ganhando um de seus mais famosos apelidos: "Elvis, The Pelvis".
ANYPLACE IS PARADISE (Joe Thomas) - Mais uma deliciosa canção com uma melodia envolvente. Esta sem dúvida é um das músicas do Rei do Rock que de certa forma é subestimada pois não alcançou a repercussão que merecia. Isso é facilmente explicável. Elvis estava em um período tão genial, em que firmava as bases estéticas de todo uma revolução comportamental e cultural, que qualquer canção, mesmo que fosse ótima, seria facilmente ofuscada, porque ele estava em um momento simplesmente fenomenal da carreira. Nunca o mundo havia se deparado com tamanha descarga de energia e inovação. Os anos 50 foram tão produtivos e fantásticos que muitos autores consideram essa década como inigualável em termos de talento dentro da carreira de Elvis. Como um rapaz de apenas vinte e poucos anos conseguiu explodir e detonar todo esse movimento? Essa é uma questão ainda em aberto, mesmo que seja estudada até mesmo em centros acadêmicos pelos EUA e Europa. Um momento simplesmente único na história que não foi mais repetido nos anos que se seguiram, nem mesmo pelo próprio Elvis. Genialidade é isso aí. Destaque para o baixo de Bill Black num raro solo musical.
HOW'S THE WORLD TREATING YOU (Chet Atkins / Felice e B.Byant) - Talvez o momento mais fraco do disco. Música excessivamente melancólica para um trabalho tão rocante como este. Estaria Elvis antecipando o estilo que iria adotar em muitas das suas canções nos ainda distantes anos 70? Não sabemos. Uma coisa é certa: Elvis sempre teve escondido dentro de si uma personalidade que tendia à introspecção. Como ele ainda estava com apenas 21 anos de idade, jovem, bonito, ao lado da pessoa que ele mais amava na vida, sua mãe, suas tendências de se absorver em si mesmo ainda estavam sob controle e completamente adormecidas. Até porque não dá para ser uma pessoa deprimida na flor da idade, rico, amado e cercado de garotas por todos os lados. Esse Elvis a que estamos nos referindo estava há anos luz do Elvis "70's". De qualquer forma não podemos deixar de registrar que em alguns momentos dessa música o lado mais sombrio de Elvis se manifesta, mesmo que de forma totalmente inconsciente. Composição de Atkins que se tornaria produtor dos discos de Elvis nos anos sessenta. Apesar de tudo é cantada e executada corretamente e novamente Scotty faz questão de calibrar sua Gibson como nos velhos e bons tempos da Sun Records.
HOW DO YOU THINK I FEEL (Webb Pierce) - Depois da introversão de "How's The World Treating You" nada melhor para finalizar o disco do que uma música alegre e com um acentuado sabor latino em seu arranjo. Se destaca do conjunto possuindo personalidade própria. Aqui Elvis exercita um estilo que ele iria usar de forma acentuada em trabalhos posteriores como "Fun in Acapulco" (o seresteiro de Acapulco, 1963). Mas isso ainda estava muito longe de Elvis. Nesse momento ele era apenas o cantor mais idolatrado pelos jovens, um símbolo mundial de rebeldia e alegria de viver. Elvis estava sentado no mesmo trono que um dia pertenceu ao maior de todos os rebeldes: James Dean. Idolatrado como um verdadeiro Rei pelos jovens, Elvis não conseguia avistar de onde estava ninguém para ameaçar sua realeza. Elvis reinava absoluto, ditando a moda, os costumes e os gostos da juventude americana. Um verdadeiro monarca e o disco faz jus ao seu poder real, à toda sua majestade, um disco à altura de Elvis Aaron Presley, o Rei do Rock'n'Roll.
Elvis (1956): Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado no Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 01 a 03 de setembro de 1956 / Data de Lançamento: outubro de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 5
Então chegamos na última musica dessa curta trilha sonora da carreira de Elvis, a primeira de sua discografia. Trata-se da faixa intitulada "We're Gonna Move". Essa canção foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. De fato ele foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".
Até que se encaixou muito bem na trilha sonora. O ritmo bem marcante trouxe uma boa oportunidade para Elvis mostrar seu rebolado numa cena do filme. Além disso todos associavam Elvis a esse estilo vibrante, de puro movimento, que era o Rock em seus primórdios. Só que o sabor dessa faixa, como de muitas outras da trilha, era de country music. E também por essa razão essa música nunca se tornou um sucesso. Se formos pensar bem apenas "Love Me Tender" virou um hit, um sucesso. As demais canções não saíram do contexto do próprio filme.
Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. O filme de certa maneira iria servir mesmo como um teste para que o estúdio tomasse conhecimento se Elvis iria ou não funcionar no cinema.
Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! O resultado então foi essa trilha sonora que apesar de não ser muito conhecida (tirando a música tema, claro!) também tem seu espaço dentro da vasta discografia de trilhas sonoras da carreira do cantor.
Pablo Aluísio.
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