domingo, 29 de junho de 2025

Elvis Presley (1956) - Parte 5

Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor.

Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

 "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de junho de 2025

Elvis Presley (1956) - Parte 4

"Blue Moon" é maravilhosa. Quando Elvis a gravou, em 1954, na Sun Records, ela já era uma balada consagrada dentro do universo musical americano. Gravada inicialmente nos anos 1930, bem no auge da depressão que assolava a economia daquele país, tinha se tornado um símbolo sentimental em uma época muito dura na vida das pessoas. Fica óbvio que Elvis a conhecia desde a infância. O diferencial de sua versão foi a performance claramente emocional que imprimiu na gravação. Embora tivesse alguns pequenos problemas, como o fato de Elvis ter esquecido a letra bem no meio da gravação, ainda assim a RCA Victor resolveu resgatá-la para fazer parte do primeiro disco do cantor na nova gravadora. O produtor Steve Sholes viu ouro puro ali. Era uma bela obra prima musical.

Outra canção que foi resgatada dos anos na Sun Records foi a balada "I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')" de autoria de Jimmy Wakely. Esse foi um cantor e compositor popular no sul dos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940. Vestido de cowboy ele ganhou fama se apresentando no palco do Grand Ole Opry. Seguindo os passos de artistas como Gene Autry ele foi abrindo seu caminho, chegando até mesmo a compor para trilhas sonoras de filmes B de faroeste. Como Elvis sempre foi louco por cinema não era surpresa ele ter escolhido músicas do repertório de Wakely para gravar. A intenção era ter uma boa seleção musical country para tocar nos pequenos festivais que contratavam Elvis nessa fase de sua vida. Afinal cantar em feiras de gado e eventos desse tipo exigia mesmo um repertório bem popular, country, de acordo com o gosto das pessoas que frequentavam esses festivais.

"I'm Counting on You" havia sido composta por Don Robertson. Compositor de classe, excelente pianista, esse californiano iria cair nas graças de Elvis que por anos iria gravar inúmeras músicas criadas por ele. Basta lembrar das excelentes baladas românticas "Anything That's Part Of You", "I Met Her Today", "There's Always Me", "No More" e tantas outras lindas canções que trouxeram muita qualidade musical para diversos discos de Elvis ao longo dos anos. Coisa fina. É importante chamar a atenção que quando Elvis a gravou ainda não tinha à disposição uma banda maior, com mais instrumentistas, algo que iria enriquecer muito suas gravações no futuro.

Em minha opinião a gravação de Elvis é de certo modo ofuscada um pouco por causa dessa falta de diversidade de arranjos. Provavelmente se Elvis a tivesse gravada em 1960 teríamos uma grande faixa, com orquestra ao fundo, mais qualidade em termos de grupo de apoio. De qualquer forma mesmo contando com uma pequena banda de apoio Elvis ainda conseguiu realizar um bom trabalho. Sua performance vocal era o grande diferencial, algo que conseguia se sobressair a todas as limitações técnicas da época.

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de junho de 2025

Elvis Presley (1956) - Parte 3

Uma das faixas desse álbum, o country "Trying to Get to You", seria utilizada por Elvis nos palcos até o fim de sua vida. Isso provava o quanto ele gostava da música, até porque ela nunca foi exatamente um sucesso em sua discografia, havia muitas outras músicas bem mais populares. Porém Elvis tinha um apreço especial por ela, como bem demonstra as centenas de versões ao vivo que cantou.

Essa música também foi uma das que a RCA Victor aproveitou do período em que Elvis gravava na Sun Records, um ano antes. O produtor Steve Sholes ouviu todo o material que Sam Phillips enviou para Nova Iorque e escolheu entre as gravações aquelas que poderiam ser aproveitadas no disco de estreia de Elvis na RCA. Foi uma boa escolha do produtor. A gravação é realmente muito bem realizada por Elvis e banda.

"Money Honey" teve sua gravação original feita em 1953 por Clyde McPhatter que estava tentando emplacar uma carreira solo longe de seu grupo The Drifters. Essa primeira versão não teve muito sucesso. Depois ela foi regravada por Billy Ward and the Dominoes, onde finalmente se tornou um hit nas paradas, chegando a vender a incrível marca de um milhão de cópias. A versão de Elvis ficou muito bem executada, com aceleração de seu ritmo original, até porque agora a música era puro rock ´n´ roll na voz de Presley. O curioso é que a versão de Elvis acabou inspirando outro roqueiro famoso da época, Eddie Cochran, que também registrou sua própria interpretação na música pelo selo London em 1959, justamente quando Elvis estava bem distante, servindo o exército americano na Alemanha.

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de junho de 2025

Elvis Presley (1956) - Parte 2

Caso típico de se ouvir uma música pela primeira vez e adorar logo de cara! Foi esse o meu caso ao ouvir a canção " "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)". Passados tantos anos desde que comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez não mudei em nada a minha percepção dessa excelente faixa do álbum de estreia de Elvis Presley.

Esse é seguramente um dos melhores momentos do álbum. Veja, todas as faixas desse disco se ressentem, em minha opinião, de um melhor trabalho em termos de arranjos.Porém no que diz respeito a essa música não teria nada a criticar. Ela é perfeita!

Anos depois, nos tempos de seu programa semanal na BBC, os Beatles decidiram apresentar uma versão desse clássico rockabilly. Nem preciso dizer que a gravação dos ingleses ficou excepcional, resultando em uma gravação muito alto astral, alegre, para cima! Que conclusão diria sobre tudo isso? A música foi gravada por Beatles e Elvis Presley. Em ambos os discos o resultado ficou excepcional. Por tudo isso credito essa como uma das melhores da época de ouro do rock. E isso, meus caros leitores, definitivamente não é pouca coisa!

Outra que vai na mesma linha é  "One-Sided Love Affair". Perceba que em seus primeiros discos Elvis desenvolveu uma técnica muito pessoal de cantar, que chegou a ser dita por alguns críticos dos anos 50 como um "mastigar de sílabas". Outro escreveu que Elvis cantava como se mastigava chicletes! Apesar da rabugice desses jornalistas, o fato é que a coisa toda até faz algum sentido. Elvis parecia um cantorzinho jovem brincando com o estilo de cantar daqueles tempos. Basta lembrar de Frank Sinatra e Dean Martin para uma comparação rápida. Elvis não  entoava sua voz com soberba, apenas cantava a letra da música de uma maneira mais relaxada, quase casual. Acabou criando uma nova linguagem musical nesse processo...

Pablo Aluísio. 

domingo, 1 de junho de 2025

Elvis Presley (1956) - Parte 1

O álbum abre com a canção "Blue Suede Shoes", um clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins. Até hoje se fala muito que Perkins poderia ter sido maior que Elvis, que ele teve azar de sofrer um acidente de carro muito sério e outras coisas. Olha, com todo o respeito ao Carl Perkins e seu talento, eu vejo esse tipo de observação como uma grande bobagem. Todo tipo de comparação é condenável.

Cada um tem seus próprios defeitos e qualidades. Não penso que Perkins poderia ser maior do que Elvis, até porque depois de um tempo ele se recuperou e continuou na carreira, sem chegar nem perto do sucesso de Elvis Presley. Isso não o desmerece em nada, mas prova que dizer que ele poderia ter sido o grande nome do rock é especulação e uma tremenda bobeira

Outro hino da geração rocker é "Tutti Frutti". Essa é do Little Richard. Elvis nunca levou essa canção muito à sério, verdade seja dita. Ele inclusive poderia se referir a esse rock como uma música chiclete como ele gostava de dizer. O que significava exatamente isso? Ora, significava que Elvis a via como uma canção de rock sem muita substância, feita apenas para agitar, embalar seus fãs durante seus shows e apresentações na TV. Tanto isso parece ser verdade que ele logo a deixou de lado, não a usando mais depois desse disco. 

De qualquer forma Little Richard não cansou de agradecer a Elvis por ter gravado sua música. Em um documentário sobre esse álbum ele afirmou com todas as letras que só tinha mesmo a agradecer ao Rei do Rock, pois se Elvis não tivesse gravado suas músicas ele provavelmente ainda seria cozinheiro de uma espelunca em Atlanta. A gratidão sempre é muito bem-vinda meu caro Richard. Falou pouco, mas falou bonito!

Pablo Aluísio.

sábado, 31 de maio de 2025

Elvis Presley - Sun Records

Antes dessa sessão de gravação, todavia, Sam havia sugerido a Elvis que ele cantasse algumas músicas de Arthur "big boy" Grudup, um dos pioneiros do Blues elétrico de Chicago. Presley conhecia muitas músicas de Grudup como "Cool Disposition", "Rock me Mama", "Hey Mama", "Everything's All Right" e "That's All Right Mama", que era a sua favorita. Agora, durante o intervalo, Elvis pegou uma garrafa de Coca-Cola e com ela nas mãos começou a cantar essa música, de maneira envenenada, só por brincadeira. "Elvis começou a brincar" - lembra Scotty, "e eu comecei a tocar junto assim que descobri em qual tom ele estava tocando. Então a porta da sala de controle se abriu. Sam entrou e disse: 'O que vocês estão fazendo?' Elvis respondeu que não sabia, que era só brincadeira. 'Bem', disse Sam, 'isso está muito bom. Vamos gravar' No terceiro ou no quarto take nós acertamos - e pronto"

A criação dessa música, tão modestamente descrita por Scotty Moore, foi uma obra de arte, a fusão perfeita de duas culturas distintas, a negra e a branca. Comparando-se o original de Grudup com a versão de Presley, dificilmente se pode dizer que ambos estejam cantando a mesma canção. A diferença é muito grande, algo assim como comparar Mick Jagger e Frank Sinatra cantando "satisfaction". Em sua versão, Elvis acrescentou um ingrediente fundamental - o sexo. Ele erotizou a canção, criando um som espontâneo e ritmado. Nascia o Rock'n'Roll como o conhecemos. O estilo country ao fundir-se com o rhyntim and blues, estabeleceu um novo gênero musical na América, até então dominada pelo jazz e pelos musicais da Broadway. Assim que Elvis firmou as bases dessa nova música, novos talentos surgiram como Carl Perkins, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, os Beatles e os Rolling Stones.

John Lennon reconheceu publicamente a importância de Elvis ao declarar: "Antes de Elvis não existia nada". O jovem Elvis era um gênio. Durante seus anos na Sun, Presley criou uma música debochada, alegre e erótica e lançou as bases estéticas do Rock'n'Roll. O rock não é, como alguns críticos acreditam, apenas um mistura maluca de vários ritmos americanos. Tudo isso é a fonte do Rock, mas não a sua alma. A essência do Rock'n'Roll está no comportamento, na postura frente a vida. E quem primeiro expressou essa atitude foi Elvis, depois os Beatles e depois todos as grandes bandas de rock da história. Todos esses caras foram gozadores e muito chegados ao deboche e à paródia, a energia e o entusiasmo diante da vida, por mais cruel que ela tenha sido com eles (a maioria dos pioneiros do Rock tinham origem humilde e sofrida, inclusive o próprio Elvis e os Beatles). Para o lado B do primeiro single de Elvis foi escolhida uma tradicional canção de bluegrass de Bill Monroe, "Blue Moon Of Kentucky".

Com tudo pronto Sam começou os trabalhos de divulgação do disco. No próximo sábado à noite, ele levou o pequeno acetato para Dewey Phillips, na rádio WHBQ. Dewey era um disc Jockey muito louco que só tocava música negra, isso em Memphis, uma das cidades mais racistas do país. Ele ficou receoso em tocar Elvis, no começo. Depois de ouvir opiniões de outras pessoas, ele finalmente decidiu tocar, e assim por volta das nove horas, foi ao ar pela primeira vez na história um disco de Elvis Presley. O resultado foi incrível. Dewey sempre recebia muitos pedidos e conversava por telefone com seus ouvintes enquanto estava no ar. Isso foi antes da televisão e todo garoto de Memphis escutava seu programa. Nesse sábado à noite, o telefone da estação não parou um só minuto. Dewey tocava "That's All Right" virava o disco e tocava "Blue Moon of Kentucky". E foram só estas duas músicas a noite toda. Elvis ficou tão nervoso que sintonizou o rádio para seus pais e foi ao cinema. Mal sabia ele que naquela noite de sábado em Memphis começava a ser escrita uma das páginas mais importantes na história da música do mundo, o nascimento de uma revolução cultural que resiste até os dias de hoje. Uma revolução chamada Rock'n'Roll!

Elvis - Documento Histórico.

domingo, 25 de maio de 2025

Elvis Presley - Memphis Recording Service

Aos 18 anos Elvis parecia não ter nenhuma perspectiva. Este foi um dos seus períodos mais melancólicos. A maior parte do dia ele passava trabalhando numa fábrica junto com seu primo Gene Smith, montando projéteis de canhão para o exército americano, das 7 da manhã até às 3 da tarde. Seu ordenado, 66 dólares por semana, era muito mais do que seu pai recebia depois de cinco anos trabalhando como carregador. Mas, no inverno, antes de fazer 19 anos, Elvis trocou seu emprego e foi ser motorista de caminhão de uma companhia de eletricidade. O ordenado era menor, mas a curtição era maior, pois ele era louco por carros e caminhões.

E foi de dentro da cabine deste caminhão que Elvis avistou pela primeira vez uma propaganda que logo lhe chamou a atenção. O anúncio do Memphis Recording Service dizia: "Gravamos qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer hora". Com 4 dólares, era possível gravar duas músicas num acetato de 78 rotações. Por mais duro que fosse, Elvis tinha essa quantia e em junho de 1953 ele pintou pela primeira vez na Sun Records. De acordo com o mito ele foi gravar um disco para dar de presente de aniversário de sua mãe. Mas acontece que o aniversário de Gladys havia sido no dia 25 de abril e, além do mais, os Presleys não tinham vitrola. Elvis só estava curioso em saber como a sua voz ficava num disco. Embora sua perfomance tenha sido qualquer coisa, sua voz e presença impressionaram Marion Keisker, a secretária de Sam Phillips. Ela recorda: "foi no começo da tarde de um sábado muito atarefado que ele chegou, e eu achei uma figura muito estranha, com aquele cabelo grande. Ele me disse que queria gravar umas canções para sua mãe e eu perguntei que tipo de música ele cantava.

Ele então se virou até mim e disse: "Eu canto todo tipo de música". Fiquei intrigada e perguntei que tipo de interpretação tinha, se era hillbilly (caipira), porque ele tinha um jeito de caipira. Então eu perguntei: "Você vai imitar que cantor? Com quem você se parece?" Ele me olhou muito sério e disse: "Eu não me pareço com ninguém". Quando Marion começou a rodar a fita, ela viu que Elvis estava certo. Ele não se parecia com ninguém. Cantou um sucesso de um grupo negro, The Ink Spots, "My Happiness" e uma balada melosa, favorita de sua mãe: "That's when your Heartaches begin". E seu estilo era um cruzamento perfeito entre o timbre áspero e monocórdio dos negros e o gingado, o scat dos cantores brancos rurais. Elvis saiu com o disco para Gladys e Marion foi correndo mostrar a fita para Sam Phillips. Ele não ficou muito impressionado.

Só quando Elvis voltou, no começo de 1954, e pediu para fazer outro disco, Sam descobriu o que tinha nas mãos. Assistiu as gravações e anotou: "Elvis Presley. Bom baladista. Chamar na primeira oportunidade". Nove meses depois Sam Phillips lembrou-se do "garoto de costeletas" e resolveu ligar para ele. Elvis veio no maior pinote até o estúdio e, depois de tentar inutilmente copiar o disco de demonstração, encarou o exasperado Sam Phillips: "Bem, o que você sabe cantar, garoto?". Elvis desfilou seu repertório, passando por diversos estilos, com ênfase em Dean Martin. Contudo, quando a audição terminou, Phillips não estava nada convencido, e disse a Elvis que seria preciso "trabalhar muito". Presley respondeu que gostaria que ele lhe "arranjasse uma banda". O guitarrista Scotty Moore e o baixista Bill Black foram chamados e começaram a trabalhar junto com Elvis. Quatro meses depois, na noite de 5 de julho de 1954, Elvis voltou ao estúdio com sua banda para sua primeira gravação profissional. A música era uma balada country muito piegas, com uma parte recitada onde Elvis sempre engasgava. O som estava muito ruim e Phillips pediu aos rapazes para darem um tempo.

Elvis - Documento Histórico.

domingo, 18 de maio de 2025

Elvis Presley - The Sun Sessions CD

Elvis Presley – The Sun Sessions CD
A era do CD chegou e o mercado correu para aproveitar o novo filão que nascia. Esse não pode ser considerado o mesmo disco de 1976 pois trazia uma quantidade grande de novidades. Como o CD tinha muita mais capacidade de informação e duração, era necessário colocar algo a mais para atrair a atenção dos consumidores. E nesse aspecto a gravadora caprichou. Havia no repertório desse CD uma série de gravações Outtakes e  Alternate Takes, sendo essas últimas completamente inéditas para os fãs. Material que foi encontrado depois de muitas pesquisas no arquivo da própria RCA Victor em Nova Iorque. Como se sabe, quando Elvis foi para a RCA os executivos dessas gravadora foram até Memphis e pegaram com Sam Phillips todas as gravações que Elvis havia feito naquele pequeno selo. Tudo mesmo, até fitas com takes inacabados e pedaços de ensaios. 

Para muitos fãs foi a primeira oportunidade de ouvir músicas como "Harbor Lights" e takes desconhecidos de "I Love You Because" e "I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone)". Eu me lembro bem que o lançamento desse Compact-Disc foi muito celebrado entre os fãs de Elvis nos anos 80. As pessoas não tinham a menor idéia de que ainda existia materias como esses que eram ouvidos nesse título. Mal sabiam o que estaria por ouvir nos anos seguintes! De modo geral gosto desse álbum, mas não tanto de sua capa. Traz um jovem (quase adolescente) Elvis em fundo azul. A capa do disco de 1976 era tão rica em termos de direção de arte, então esperava por mais. De qualquer forma não há como negar que esse foi um álbum importante para os fãs. Deixou muita gente feliz com o que ouviu, agora na qualidade de som cristalina do novo formato que nascia, o CD. 

Elvis Presley – The Sun Sessions CD (1987)
The Master Takes
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
Good Rockin' Tonight
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
Baby, Let's Play House
I'm Left, You're Right, She's Gone
Mystery Train
I Forgot To Remember To Forget
I Love You Because
Blue Moon
Tomorrow Night
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
Just Because
Trying To Get To You
The Outtakes
Harbor Lights
I Love You Because - Take 2 3
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
I Don't Care If The Sun Don't Shine
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 9
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
When It Rains, It Really Pours
The Alternate Takes (Material Inédito):
I Love You Because - Take 3 3:33
I Love You Because - Take 5 3:27
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 7
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 12

Pablo Aluísio. 

domingo, 11 de maio de 2025

Elvis Presley - The Sun Sessions

Elvis Presley - The Sun Sessions
Em 1976 chegou nas lojas de discos de todo o mundo esse álbum intitulado "The Sun Sessions". Foi a primeira coletânea de verdade produzida pela RCA Victor trazendo praticamente todas as músicas gravadas profissionalmente por Elvis na Sun Records. A razão da existência desse disco tinha menos a ver com fatores de pesquisa discográfica e mais com busca de lucro imediato de um investimento feito pela gravadora. Em 1975 a RCA comprou todo os direitos do catálogo de Elvis por meros 5 milhões de dólares. Era óbvio que esse legado tinha muito mais valor, entretanto Elvis precisava pagar algumas dívidas na época e resolveu vender tudo o que havia gravado na Sun e na RCA até aquele momento. Algo que a longo prazo iria se revelar um péssimo negócio, mas que para Elvis, naquele momento, parecia ser algo atrativo e compensador. 

Dito isso, é inegável que esse álbum tenha grande valor histórico. Para os fãs na época era um verdadeiro presente! Naquele ano essas músicas já eram complicadas de se achar pois os singles originais valiam verdadeiras fortunas no mercado. E as primeiras prensagens de discos da RCA que as traziam (como "For LP Fans Only" e "A Date With Elvis") tinham sido lançadas na década de 1950. Então era de fato um material muito mais do que bem-vindo. E o bom gosto da arte da capa (que ficou maravilhosa) aliada a um bom texto na contracapa, tornava o produto perfeito naquele momento. O álbum foi um sucesso comercial e de crítica, vendendo muito. Para a RCA foi uma primeira oportunidade de recuperar o valor investido na compra de todas essas músicas por parte da gravadora um ano antes do lançamento desse disco, que até hoje é bem querido por parte dos fãs de Elvis Presley.

Elvis Presley - The Sun Sessions (1976)
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Good Rockin' Tonight
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
I'm Left, You're Right, She's Gone
Baby Let's Play House
Mystery Train
I Forgot To Remember To Forget
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
I Love You Because (1st Version)
Trying To Get To You
Blue Moon
Just Because
I Love You Because (2nd Version)

Pablo Aluísio. 

domingo, 4 de maio de 2025

Elvis Presley - I Forgot To Remember To Forget / Mystery Train

Em agosto de 1955 chegou nas lojas de Memphis o quinto e último single de Elvis na gravadora Sun Records. Com o código de Sun 223, o pequeno disquinho trazia mais duas músicas inéditas do cantor gravadas no estúdio de Sam Phillips. Por essa época Elvis já estava ao lado de seu novo empresário, Tom Parker, que lhe disse que ele deveria ir embora da Sun. A pequena gravadora sulista não teria mais nada a lhe oferecer em termos de incentivo em sua carreira. Para Tom Parker apenas uma grande companhia fonográfica como a RCA Victor (a maior dos Estados Unidos) poderia lhe trazer a fama tão desejada. Ficar na Sun era perder tempo. Elvis deveria ter Memphis para trás e ir imediatamente para os grandes centros como Nova Iorque e Los Angeles.

Claro, foi um conselho acertado. A RCA tinha sim interesse em Elvis. Via no rapaz não apenas um talento nato, como também o cantor ideal que eles tanto procuravam. No novo selo Elvis iria ser produzido por Steve Sholes, um produtor experiente, com faro para o sucesso comercial. De uma forma ou outra a primeira providência da RCA Victor após assinar com Elvis foi relançar todos os seus cinco compactos na Sun, dessa vez garantindo distribuição nacional e internacional. O alcance da multinacional era algo completamente impossível de se igualar por Sam e sua pequena empresa. Philips obviamente ficou um pouco triste por Elvis deixar sua gravadora, mas isso era algo mesmo irreversível de acontecer. Como gratidão Elvis prometeu que sempre que possível voltaria à Sun para rever os velhos amigos - algo que ele cumpriu realmente.

Já em termos puramente musicais esse single foi considerado realmente genial. Não pelo lado A do compacto que trazia a boa " I Forgot To Remember To Forget", uma balada com claro sabor country and western, mas sim pelo aclamado lado B "Mystery Train". Até hoje essa faixa é considerada por críticos e especialistas em música como uma das mais perfeitas gravações da carreira de Elvis. É até mesmo espantoso que Elvis e Sam tenham produzido algo assim com tão poucos recursos técnicos. Um famoso crítico de Nova Iorque certa vez escreveu que se Elvis tivesse desaparecido em 1955 sem deixar rastros ele ainda assim seria lembrado por causa de sua performance de Mystery Train. Um ponto de vista que não tenho como discordar.

Pablo Aluísio.

domingo, 27 de abril de 2025

Elvis Presley - Baby Let's Play House / I'm Left, You're Right, She's Gone

Em abril de 1955 surgiu nas  lojas o quarto e penúltimo single de Elvis Presley pela Sun Records. O compacto do selo amarelo trazia duas canções gravadas por Elvis nos dois meses anteriores. Por essa época Elvis já estava se apresentando em shows ao vivo, cruzando os estados sulistas com seu número. Por isso as sessões na Sun Records eram feitas nos intervalos dos concertos, nos dias em que Elvis estava de folga em Memphis.

"Baby Let's Play House" foi gravada em uma sessão em fevereiro. Nessa ocasião Elvis gravou apenas essa faixa, o que era de certa forma incomum, já que ele costumava gravar de quatro e cinco músicas em uma noite. Não que ele não tenha tentado gravar outras canções. Nessa ocasião ele tentou gravar as primeiras versões de "I Got a Woman" e "Trying To Get To You", mas não ficaram boas e Sam Phillips resolveu descartá-las. Havia sido apenas um pequeno ensaio e depois de alguns minutos o próprio produtor resolveu encerrar a sessão. Ele poderia voltar outra noite para acertar. O mesmo aconteceria em março com "I'm Left, You're Right, She's Gone". Elvis, cansado dos compromissos na estrada, não conseguiu ir muito além dos takes dessa música. De qualquer maneira as duas músicas ficaram muito bem gravadas, caprichadas, por isso Sam as escolheu para compor esse quarto single.

Por essa época os primeiros disquinhos de Elvis começaram a chegar também nas principais cidades do país. A distribuição ficou melhor e os primeiros compactos de Elvis chegaram em lojas de Nova Iorque e Los Angeles. A RCA Victor, a poderosa gravadora multinacional, se interessou por Elvis. Outras gravadoras já tinham mostrado interesse, mas nenhuma delas havia ido direto ao ponto de forma tão decisiva. Numa manhã de sábado Sam Phillips recebeu um telefonema de Nova Iorque. Era um executivo da RCA. Ele sondava se Sam estava disposto a negociar o passe do jovem cantor. Sam, sempre com problemas financeiros, viu aquilo como uma tábua de salvação de sua pequena Sun. Sim, ele estava aberto a propostas e poderia encontrar um enviado da RCA Victor caso ele fosse até Memphis. Encontros foram agendados para dali duas semanas e imediatamente Sam soube que os dias de Elvis na Sun Records estavam chegando ao fim.

Elvis Presley - Baby Let's Play House / I'm Left, You're Right, She's Gone
Data de Gravação: Fevereiro e Março de 1955
Local de Gravação: Sun Records, Memphis, TN
Data de Lançamento: Abril de 1955
Produção: Sam Phillips
Músicos: Elvis Presley (vocais e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Jimmie Lott (bateria, apenas em "I'm Left, You're Right, She's Gone")

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de abril de 2025

Elvis Presley - Milkcow Blues Boogie / You´re a Heartbreaker

O terceiro single de Elvis Presley pela Sun Records foi composto por Milkcow Blues Boogie no lado A e You're A Heartbreaker no lado B. Conforme as vendas foram se tornando cada vez mais interessantes para a gravadora de Sam Phillips os singles (compactos simples com uma música de cada lado) também foram sendo editados com maior frequência. Era uma maneira não apenas de popularizar o cantor nas estações de rádio, como também de promover seu nome entre o público jovem de Memphis e cidades vizinhas. A Sun Records tinha limitações em termos de divulgação e promoção de seus artistas, mas fazia o possível para transformar seus singles em sucesso de vendas.

Quando o terceiro single de Elvis chegou nas lojas ele já era o maior vendedor de discos do selo Sun. Não tardou a surgir diversos boatos afirmando que a gravadora havia se tornado pequena demais para Elvis. Foi por essa época que começaram a surgir pessoas interessadas em tirar o cantor da Sun para um selo maior. De qualquer forma Presley ainda tinha o passe pertencente ao selo do sol nascente, embora seus dias por lá realmente estivessem contados. Para quem gosta de detalhes fonográficos aqui vai uma informação adicional: esse single levou o catálogo de número Sun 215. Um original vale alguns milhares de dólares e os poucos que sobreviveram ao tempo estão nas mãos de colecionadores.

"Milkcow Blues Boogie" foi gravada inicialmente por Kokomo Arnold em 1953 pelo selo Decca, sendo que em 1946 Bob Willis & his Texas Playboys já a tinham gravado com o título de "Brain Cloudy Blues". A versão de Presley surgiu no mercado como a música título de seu terceiro single pela Sun Records em 29 de dezembro de 1954. Ela foi gravada na terceira sessão de Elvis pela pequena gravadora de Sam Phillips contando somente com o trio básico de suas primeiras músicas: apenas Elvis, Bill e Scotty. A data correta desta sessão é motivo de controvérsia pois alguns autores determinam o mês de novembro e outros, dezembro, não ocorrendo um consenso sobra a data certa. Até mesmo nos encartes dos CDs mais recentes a dúvida persiste.

Essa é provavelmente uma das canções mais peculiares que já ouvi. A letra e o arranjo não deixam dúvidas: é uma canção escrita, feita e produzida para o Sul rural americano dos anos do pós guerra. A sonorização abafada e o ritmo estranho podem deixar muitos fãs jovens do cantor surpresos! Mas era justamente esse tipo de canção que tocava nas rádios regionais de Memphis quando Elvis era apenas um aspirante ao estrelado. Vale a pena sentir e ouvir a sonoridade daquela época na voz do artista que melhor representou aquela geração.

"You´re a Heartbreaker" vinha para completar o single. Apesar de ter sido legada ao lado B do acetato essa é seguramente a melhor canção desse disco. É um country de ritmo agradável, muito bem executado pelo trio Blue Moon Boys, trazendo Elvis em momento inspirado, obviamente "mastigando" as palavras em seu vocal ao estilo bem country and western. A letra, juvenil e emocional, se refere a uma "destruidora de corações" - tão comuns na juventude de cada um desses jovens dos anos 50! Enfim, linda baladinha country que marcou seu terceiro lançamento na Sun Records.

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de abril de 2025

Elvis Presley - Good Rockin' Tonight / I Don't Care if The Sun Don't Shine

O segundo single de Elvis Presley pela Sun Records foi lançado em setembro de 1954. Curiosamente muitos críticos de música e arte chegam a considerar a canção "Good Rockin Tonight" o primeiro rock´n´roll genuíno da história da música. Pessoalmente não chegaria a tanto uma vez que as raízes R&B ainda estão bem presentes. A canção foi gravada originalmente pelo próprio autor Roy Brown em 1947. Brown era de New Orleans, provavelmente a cidade mais musical de todos os EUA. Lá se respira musicalidade em cada esquina, em cada canto. Nas ruas, nos bares, em concertos ao vivo, a cidade parece respirar notas musicais a cada hora do dia.

A versão de Elvis surge quando a música já era bem conhecida em Memphis e no sul - mas não tanto nas cidades do norte e oeste o que talvez explique a forte identidade que ligam Elvis à canção nessas regiões. Sam Phillips queria que Elvis a gravasse pois seria uma boa oportunidade de tocá-la ao vivo em shows por causa de sua vibração contagiante. Por essa época o cantor já havia se apresentado pela primeira vez de forma profissional. Além de seu minúsculo repertório Elvis contava com seu carisma à prova de falhas em cada show que realizou. Esqueça os grandes shows apoteóticos que vem à mente quando se pensa em Elvis Presley. No comecinho de sua vida na estrada Elvis se apresentava em qualquer lugar que lhe desse uma chance. Valia de tudo, clubes noturnos pequenos, pátios de escolas, festivais e até em cima de carrocerias de caminhão. O importante era ser visto e ouvido pelo maior número de pessoas possível.

Ouvindo o registro não podemos ficar menos do que admirados. Na gravação participaram apenas Elvis, Scotty Moore e Bill Black novamente. O resultado é acima de qualquer crítica. Elvis, no auge da juventude, esbanja personalidade e carisma em cada nota musical. Tecnicamente todos também estão extremamente bem. Não há como se comparar a versão de Roy Brown com a de Elvis. São coisas distintas, completamente diferentes. Os arranjos originais eram basicamente formados por metais, bem de acordo com o som de New Orleans. Elvis virou a música ao avesso. Sua versão é visceral, empolgante e com uma sonoridade completamente renovada. Em termos de vocalização também não há o que comparar. Brown era talentoso mas um cantor limitado. Já Elvis cantava com o coração. A versão de Elvis Presley pode sim ser considerada um dos primeiros Rocks da história - mas não a original de Brown.

"Good Rockin Tonight" na voz de Elvis Presley foi lançada pela Sun Records sob o registro de catálogo "Sun 210" em setembro de 1954 com "I Don't Care If The Sun Don't Shine" no lado B. Era o segundo compacto simples de Elvis que chegava nas lojas do Sul, dois meses após o lançamento de "That's All Right / Blue Moon Of Kentucky". Depois de seu lançamento a canção virou um ícone da primeira geração do Rock. Um símbolo que nunca mais foi esquecido, tanto que muitos artistas iriam prestar seu tributo a esse momento tão raro e importante nas décadas posteriores! Entre as mais conhecidas versões está a que Paul McCartney produziu em sua turnê New World Tour. Uma versão belíssima desta canção, que inclusive conseguiu capturar toda a sua essência roqueira. Em conclusão o que ficou realmente na história do rock foi a versão de Elvis Presley. A despeito da importância da gravação original de Roy Brown nada se compara à energia e a espontaneidade incomparáveis que Elvis Presley injetou na música. Um momento único em sua carreira.

Pablo Aluísio.

domingo, 6 de abril de 2025

Elvis Presley - That´s All Right / Blue Moon Of Kentucky

Os fãs já sabem mas não custa repetir: esse foi o primeiro single comercial da carreira de Elvis Presley. Eu gosto de usar a expressão "comercial" justamente para não confundir com o primeiro acetato que Elvis gravou na Sun, "My Happiness". Aquele era um disquinho amador, feito para matar a curiosidade do próprio Elvis que queria ouvir como ficaria sua voz em um disco. É interessante, mas praticamente todos os jornalistas (principalmente os marujos de primeira viagem) costumam sempre confundir. Escrevem que "That´s All Right (Mama)" foi o primeiro disquinho de Elvis e ele o gravou para sua querida mãe. Obviamente estão trocando completamente as bolas. Confundem os discos e ainda por cima levantam uma lenda antiga que hoje em dia não tem mais razão de ser. Elvis não gravou "My Happiness" para dar de presente para a mãe. Gladys Presley nem sequer fazia aniversário naquele mês, então é tudo lenda. Uma lenda muito tocante, bonita, mas uma simples lenda, nada mais.

Assim vamos começar a falar sobre a discografia de Elvis pelo seu primeiro single que efetivamente foi gravado para chegar nas lojas ao consumidor. Estamos falando da primeira metade dos anos 1950 numa região considerada atrasada daquele país. Imaginem o que era gravar um single naqueles tempos e o mais complicado: distribuir ele em lojas afastadas, promover as canções em rádios para só depois tentar vender o show do novato cantor. Não era fácil. Assim Elvis tinha que literalmente acertar o alvo logo no comecinho da carreira. Se ninguém se interessasse ou então se ninguém gostasse era o fim e ele voltaria a dirigir caminhão, simples assim. O talento porém falou mais alto e no caso de Elvis Presley tocou fundo em quem ouviu as canções. Era um trio básico em estúdio (Elvis, Scotty e Bill) mas eles soaram como se fossem mais pessoas. Créditos? Todos para Sam Phillips, um produtor subestimado. Seus efeitos de ecos nas músicas criavam um efeito tão perfeito, maravilhoso que preenchia qualquer lacuna que o ouvinte sentisse. Coisa de gênio, claro. Hoje em dia cópias originais são uma verdadeira preciosidade, disputadas em leilões. E pensar que na época de seu lançamento os compactos custavam poucos centavos - nem chegava a 1 dólar, imagine você.

O lado A do single trazia a boa "That´s All Right" (Mama), de autoria do compositor Arthur Grudup. Na época a música foi considerado um bom country, mas obviamente hoje seu status é bem diferente, sendo considerada música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Phillips, a Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de provar seu talento graças a interferência da secretária de Phillips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "jovem de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "That's All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Em 2003 foi eleita a música mais inovadora da história.

No lado B o ouvinte da época tinha "Blue Moon Of Kentucky" de Bill Monroe. Originalmente foi lançada no ano de 1948 pelo próprio autor Bill Monroe, considerado o "pai do Bluegrass". O pequeno single trazia o selo Columbia e teve uma repercussão restrita às paradas ligadas ao gênero country and western do sul dos Estados Unidos. De qualquer forma ela acabou chamando atenção e ficou sempre em evidência, sendo muito tocada em estações de rádio da região. Certamente virou uma das preferidas também de um garoto de apenas 13 anos que sempre estava sintonizando suas velhas estações country em busca de novidades. O nome do garoto em questão? Nem é preciso dizer.

O single "Sun 209" fez sucesso nas estações de rádios de Memphis. Sam tinha bons contatos com DJs dos principais programas. Na primeira vez que tocou no rádio, Elvis ficou tão nervoso que decidiu ir ao cinema. Como era tímido provavelmente tinha receios da reação de amigos e parentes. Para sua surpresa todos gostaram. Era a materialização do velho sonho de se tornar cantor nascendo para aquele garotinho que ouvia Bill Monroe no rádio. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada em julho de 1954 contando apenas com Elvis no violão, Scotty Moore na guitarra e Bill Black no baixo. Não houve bateria! O produtor Sam Phillips providenciou tudo, trazendo essa pequena banda para atuar ao lado do jovem talento.  Para quem não acredita em sonhos impossíveis, "Blue Moon Of Kentucky" veio para registrar para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música popular mundial, um sonho que se tornou possível para Elvis Presley, pois ele acreditou em sua materialização com convicção. Pois é, "Sonhos são como deuses, nós temos que acreditar neles" já dizia a conhecida frase.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Elvis Presley - Volume 1

Elvis Presley - Volume 1
Estamos lançando nessa semana o primeiro livro sobre Elvis Presley. Esse volume 1 traz muitas informações sobre os primeiros discos e filmes da carreira de Elvis. Será uma coleção de livros sobre Elvis daqui em diante. Nosso plano é de lançar um novo volume a cada seis meses, para no final termos uma coleção completa de textos sobre o cantor. Um material realmente muito bom. Abaixo segue a sinopse do livro e os endereços para adquirir seu exemplar. 

Elvis Presley
Nesse primeiro volume escrito por Pablo Aluísio, o leitor é apresentado aos primeiros discos e filmes da carreira de Elvis Presley. Um resgate com muitas informações, fruto de uma pesquisa que durou anos por parte de seu autor. Essa é a história do jovem artista que revolucionou o mundo da música desde os seus primeiros anos de fama, sucesso e impacto cultural. 

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Pablo Aluísio.