quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Elvis Presley - Love Me Tender / Anyway You Want Me

Love Me Tender / Anyway You Want Me
Elvis encerrou sua participação com chave de ouro em “Love Me Tender” com o lançamento desse single que rapidamente foi para a primeira posição da Billboard. Era o coroamento de um projeto que havia dado muito certo em todos os setores de mercado, na parada musical e nas bilheterias de cinema. Havia um compacto duplo com a trilha sonora vendendo muito bem, um filme fazendo bonito nas bilheterias e muita repercussão na mídia. O single também virou um êxito pois afinal era bem mais barato e em conta do que o compacto duplo (que custava o dobro, obviamente). Por essa época Elvis estava em todos os lugares, no cinema, na TV, nas revistas, nos jornais. Esse foi um dos momentos de maior popularidade de sua carreira. Não é para menos, poucos meses depois de ter assinado com a RCA Victor, Elvis já havia se tornado um fenômeno popular. Os executivos da gravadora estavam gratificados por seu sucesso. Nenhum outro nome naquele momento trazia mais lucro para a multinacional do que ele. E para surpresa de muitos, Elvis era, naquele momento, com apenas 21 anos de idade, o cantor mais popular do mundo!

O clássico romântico "Love Me Tender" foi usado como música tema de seu primeiro filme em Hollywood. Era um western passado durante a guerra civil norte-americana. Elvis interpretava o jovem irmão de um soldado que havia sido dado como morto em combate. Com isso ele se casava com sua noiva. Só que ao contrário do que todos pensavam ele não estava morto, voltando para casa, encontrando essa situação no mínimo incômoda. A canção foi gravada nos estúdios da Fox. Elvis não foi nessa ocasião acompanhado de sua banda tradicional, mas sim de músicos contratados pela companhia cinematográfica, algo que faria pouca diferença, uma vez que em termos de arranjo ela era bem simples, acústica, praticamente voz e violão. A diferença só seria notada mesmo nas demais canções da trilha sonora, que tinham um sabor bem country and western, para combinar com a temática do filme, um faroeste ao velho estilo. 

Além do hit “Love Me Tender” o lado B trazia uma bem-vinda canção inédita para os fãs, a balada “Anyway You Want Me”. A música apostava no sentimento, com uma letra bem romântica e arranjo melódico. A guitarra chorosa de Scotty Moore acabou virando a marca registrada da canção sendo imitada depois em lançamentos de outros artistas. “Anyway You Want Me” havia sido gravada na mesma sessão de “Hound Dog” e “Don´t Be Cruel” e arquivada para ser lançada em um momento adequado. Nota-se inclusive até mesmo uma certa estafa na voz de Elvis. Também não poderia ser diferente, pois nessa mesma noite ele tinha trabalhado duro para chegar nas versões definitivas de "Don't Be Cruel" e "Hound Dog" (sendo que essa última teve mais de 30 takes gravados!).

Mesmo com pouco fôlego, Elvis registrou essa balada e deu por encerrada a sessão. Depois de ser lançada no single, a canção ainda voltaria ao mercado poucas semanas depois. Não contente, a RCA ainda a lançaria em mais um compacto duplo chamado justamente de “Anyway You Want Me” com várias reprises como "I'm Left You're Right She's Gone", "I Don't Care If The Sun Don't Shine" e "Mystery Train". Era a RCA seguindo o conselho do Coronel Parker de sempre faturar duas ou mais vezes com as mesmas músicas. A velha raposa definitivamente não brincava em serviço e fazia escola por onde passava. No saldo final o single “Love Me Tender” vendeu cinco milhões de cópias,  se tornando o segundo maior sucesso de Elvis naquele ano, ficando atrás apenas de “Hound Dog / Don´t Be Cruel". Nada mal para quem havia surgido no começo do ano apenas como uma promessa! No final das contas 1956 havia se tornado o grande ano de Elvis Presley.

Love Me Tender (Vera Matson - Elvis Presley) / (Elvis Presley Music, BMI) 2:41 - Data de gravação: 24 de agosto de 1956 - Local: 20th Century Fox Stage 1, Hollywood / Elvis Presley (vocal e violão) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Rad Robinson (vocal) / Jon Dodson (vocal) / Charles Prescott (vocal) / Arranjado por Ken Darby e Elvis Presley / Produzido por Ken Darby / Anyway You Want Me (A. Schroeder / C. Owens) / (Chappel & Co, Inc, Rachel's Own Music, ASCAP) 2:13 - Data de gravação: 02 de julho de 1956 - Local: RCA Studios, Nova Iorque / Músicos: Elvis Presley (vocal e violão), Scotty Moore (guitarra), Bill Black (baixo), DJ Fontana (bateria), Shorty Long (piano), Gordon Stoker (piano em "Hound Dog"), The Jordanaires (vocais de apoio) / Engenheiro de Som: Ernie Ulrich / Produção: Steve Sholes / Data de lançamento: setembro de 1956/ Melhor posição alcançada nas paradas: EUA #1 e UK #11

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Elvis Presley - Love Me Tender - Sessão de Gravação

Love Me Tender - Sessão de Gravação
Essa foi a primeira trilha sonora da carreira de Elvis. Em Hollywood o estúdio Fox não iria trabalhar com a banda de Elvis, apenas com ele nos vocais. Isso surpreendeu bastante Elvis que pensou que iria contar com Scotty, Bill e seus músicos de apoio habituais. Só que a Fox, um dos maiores estúdios de Hollywood, não concordou com isso. Apenas músicos contratados pela Fox tocavam em trilhas sonoras de seus filmes. Era política da companhia e não haveria espaço para negociações em relação a esse tema. O assunto foi encerrado pelos executivos de Los Angeles. Elvis teve que engolir a decisão deles. 

Todas as canções deste filme foram gravadas nos estúdios da 20th Century Fox. Elvis contou com músicos determinados pela Fox e não com sua banda tradicional. Estes foram os músicos que participaram destas sessões: Elvis Presley (vocal, violão), Vito Mumolo (guitarra), Mike Rubin (baixo), Richard Cornell (bateria), Luther Rountree (banjo), Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon), os trabalhos musicais foram dirigidos por Ken Darby.

Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis é a esposa de Darby. Ele nunca escreveu uma linha sequer das músicas, seja de letra ou melodia. Tudo foi composto e arranjado pelo próprio Darby. Ele não assinou o material porque havia assinado um contrato de exclusividade com outra gravadora e essas faixas seriam lançadas pela RCA Victor. O jeito foi colocar o nome da esposa nos créditos. Uma forma de garantir a renda das músicas, mesmo não assinando nenhuma delas. 

Mal sabia ele que "Love Me Tender" iria se tornar uma das músicas mais famosas do século XX, fazendo com que a conta de sua esposa fosse forrada por muitos dólares todos os meses. E essa foi uma daquelas músicas que jamais deixaram de render direitos autorais, mesmo décadas depois de seu lançamento, mesmo depois da morte de Elvis e de todos os envolvidos em sua gravação. Para falar a verdade até hoje os descendentes do casal ganham dinheiro com ela!

Pablo Aluísio. 

sábado, 20 de setembro de 2025

Elvis Presley - Too Much / Playing For Keeps

Too Much / Playing For Keeps
O primeiro material inédito de Elvis a chegar nas lojas americanas em 1957 nos Estados Unidos foi o single Too Much / Playing For Keeps. Havia uma grande ansiedade por canções inéditas de Elvis Presley pois seu sucesso inigualável no ano anterior o tinha elevado ao posto de cantor número 1 da América. Assim tudo o que levava a marca Elvis era esperado com grande expectativa pelo mercado. Um mês antes do lançamento a RCA enviava para as principais lojas do país o material promocional do novo single de Elvis – um enorme cartaz para ser exposto na entrada dos estabelecimentos com a capa do compacto e a data de lançamento. A frase “Elvis está chegando” podia ser lida em letras garrafais.

Pelos números alcançados em 1956 a RCA resolveu caprichar em cada novo produto de seu agora artista principal. Os fãs adoravam esse tipo de clima pré lançamento e não se faziam de rogados oferecendo uma bela soma pelos cartazes para adicionar em suas coleções de itens relacionados ao Rei do Rock. O curioso é que embora fossem esperadas como novidade absoluta a verdade pura e simples é que as duas canções desse compacto nada mais eram do que sobras das sessões do segundo álbum de Elvis. As músicas tinham sido arquivadas para serem lançadas depois, justamente para cobrir os primeiros meses do ano de 1957 pois Elvis descansaria por algumas semanas da correria dos compromissos do ano anterior para só então retomar o ritmo dentro do novo ano que nascia.

Dentro da RCA surgiu um debate sobre qual música deveria ocupar o lado A do compacto. Alguns defendiam que Playing For Keeps tinha mais potencial nas paradas pois lembrava em certos momentos a grande balada de seu último sucesso, Love Me Tender. Keeps também era uma balada cuja letra consistia em uma declaração de amor, ideal para os corações adolescentes apaixonados da década de 50. Outra corrente porém defendia que Too Much tinha mais forças para chegar ao topo da Billboard pois era um rock com pegada, com aquela vocalização “mastigada” de Elvis que todos os jovens adoravam. A indecisão fez com que a RCA imprimisse a capa do single com Playing For Keeps em primeiro lugar (obviamente ocupando o lado A) para logo depois mudar completamente de idéia ao colocar finalmente Too Much no lado principal. Indecisão é pouco.

Quem não estava gostando nem um pouco de Too Much ganhar todo esse destaque no lançamento era justamente Scotty Moore, o guitarrista da banda de Elvis. Ele tinha errado no solo, perdeu-se por um momento e só depois conseguiu voltar ao ponto certo. Quando Elvis escolheu aquele take como oficial, Moore se apressou em lhe avisar que ele tinha errado mas Elvis respondeu: “Eu sei disso, mas essa versão ficou ótima, vamos deixar assim”. A canção chegou ao mercado com a falha de Scotty Moore que falaria sobre esse seu erro por anos a fio, como que se quisesse se desculpar com os fãs de Elvis. Bobagem, a falha existe realmente mas não macula a gravação e nem a música que é contagiante e tem a marca registrado do vocal de Elvis – algo que ele já fazia desde os tempos da Sun e que usaria ainda bastante nos anos seguintes. Aquilo era o mais puro puro rock ´n ´Roll. O single chegou nas lojas e como era de se esperar vendeu muito, mas não o bastante para chegar ao topo da Billboard. O máximo que alcançou foi um honroso segundo lugar. O fato deixou alguns cabeças da RCA preocupados mas eles não teriam motivos para reclamar pois logo Elvis estaria de volta aos estúdios para produzir material realmente novo, fresquinho, saído do forno em um ano que ele reinaria absoluto nas paradas de sucesso. Elvis estava realmente chegando e dessa vez para ficar definitivamente.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Elvis Presley - Shake, Rattle and Roll / Lawdy, Miss Clawdy

Shake, Rattle and Roll / Lawdy, Miss Clawdy
Após o enorme sucesso do single “Hound Dog / Don´t Be Cruel”, a RCA Victor inundou o mercado americano com nada mais, nada menos, do que seis novos compactos, todos reprises, com músicas que já tinham sido lançadas no álbum Elvis Presley. Nenhum dos singles conseguiu qualquer repercussão nas paradas. De fato foi uma ideia infeliz da gravadora em saturar as lojas com material sem novidades. O único material inédito a chegar aos fãs foi o single “Shake Rattle and Roll / Lawdy Miss Clawdy” que trazia a última leva de canções inéditas das primeiras sessões de Elvis na RCA em Nova Iorque. Curioso que o público acabou se confundindo e ignorou o novo single, pensando tratar-se de relançamento como os demais compactos do pacote. Uma lástima. Além do mais a própria RCA não deu muita atenção ao compacto, não o promovendo e o pior, não teve nem a dignidade de produzir uma capa com foto para o disquinho. Com tantos erros em série, “Shake Rattle and Roll / Lawdy Miss Clawdy” afundou nas paradas, sendo completamente ignorado. É lamentável a má sorte do single pois trazia duas ótimas gravações de Elvis.

O lado A com “Shake Rattle and Roll” era a materialização de uma constante insistência dos executivos para que Elvis gravasse canções do repertório de Bill Haley. Várias músicas de Haley tinham sido oferecidas a Elvis em Nova Iorque, inclusive o mega hit “Rock Around The Clock”, mas Presley as descartou. Diante da insistência acabou registrando essa "Shake, Rattle and Roll" em estúdio, finalmente. O resultado não agradou muito Steve Sholes que a tirou na última hora do primeiro álbum de Elvis. Queria trabalhar melhor depois nela (e o fez adicionando maior consistência à gravação antes de seu lançamento em compacto). Algumas fontes afirmam inclusive que nesse trabalho posterior de melhoramento da gravação o baixista Bill Black fez uma rara participação como vocalista de apoio.

Já “Lawdy Miss Clawdy” foi injustamente jogada no lado B do single, um absurdo, pois seguramente é uma das melhores melodias que Elvis registrou em Nova Iorque. Sua interpretação também é mais do que inspirada. Lloyd Price sempre foi um ótimo compositor e Elvis, por sua vez, sempre fez excelentes versões de sua obra musical. O fracasso de vendas ensinou algumas coisas à RCA. Nunca misturar material inédito e reprises em um só pacote de discos, pois isso certamente confundiria o consumidor. Prezar por belas capas, com boa direção de arte. Capas genéricas da gravadora como a que foi usada aqui era um desastre pois não chamava a atenção dos fãs nas lojas de discos. Por último não se descuidar da promoção das músicas. O compacto“Shake Rattle and Roll / Lawdy Miss Clawdy” foi tão mal lançado que muitos até mesmo ignoraram sua existência nas lojas. Com o péssimo resultado comercial as duas faixas só teriam alguma repercussão melhor três anos depois quando a RCA as resgatou novamente, as incluindo no álbum “For LP Fans Only”, lançado quando o cantor estava na Alemanha servindo o exército americano. Reconhecimento tardio, mas bem-vindo.

Shake, Rattle and Roll (Calhoun) - (Unichappel Music, BMI) 2:37 - Data de gravação: 03 de fevereiro de 1956 - Local: RCA Studios, NY. / Lawdy Miss Clawdy (Lloyd Price) - (ATV Music Co, BMI) 2:08 - Data de gravação: 03 de fevereiro de 1956 - Local: RCA Studios, NY./ Músicos: Elvis Presley (vocais, violão), Scotty Moore (guitarra), Bill Black (baixo), D.J. Fontana (bateria), Shorty Long (piano) / Local de Gravação: RCA Studios, New York, New York /  Produção: Steve Sholes / Engenheiro de Som: Ernie Ulrich / Data de Lançamento: Agosto de 1956.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Elvis Presley - O Preço da Fama

Elvis Presley sempre teve problemas em relação a dormir bem. Desde a adolescência ele sentia dificuldades em relaxar e ter uma boa noite de sono. Como a família Presley era muito pobre Elvis se virava para dormir na sala da casa, seja no sofá, seja em colchões pelo chão. Não é complicado entender que nessas circunstâncias era realmente difícil descansar. Em vista disso Elvis adquiriu o hábito nada saudável de dormir muito tarde e acordar muito cedo. Quando sua carreira de cantor tomou um bom rumo a coisa toda tendeu a piorar. Na estrada Elvis pouco dormia entre as apresentações. Bill Black, o baixista de seu grupo, o definia como uma “coruja”, uma pessoa que nunca dormia e que preferia passar a noite no carro ouvindo rádio até o dia amanhecer.

Para segurar o pique Elvis acabou conhecendo alguns remédios que lhe ajudavam a sempre estar bem disposto mesmo quando dormia mal (ou não dormia em absoluto). Quem iniciou Elvis nessas pílulas? Não se sabe ao certo. Para alguns os primeiros comprimidos foram receitados por um médico para Elvis em sua adolescência, já para outros Elvis acabou tomando conhecimento de uma grande variedade de soníferos e estimulantes na estrada mesmo, com os músicos que participavam dos mesmos shows em que ele cantava. As chamadas “bolinhas” eram bem populares entre os músicos que as usavam para aguentar a dura rotina de viagens e shows. O fato é que Elvis logo começou a se sentir muito familiarizado com essas drogas e em pouco tempo estava em busca de mais informações, lendo revistas e livros técnicos sobre farmacologia. Tão interessado ficou no assunto que alguns anos depois deu uma pista ao responder a uma pergunta numa entrevista sobre qual seria seu hobby preferido. “Eu gosto de ler livros médicos” – respondeu na lata o cantor.

Por volta de 1956 Elvis começou a sentir novamente seus velhos problemas de saúde em decorrência da correria a que estava sendo submetido. Sempre viajando, cumprindo compromissos, em Los Angeles, Nova Iorque, Nashville, tudo ao mesmo tempo agora Elvis foi sentindo a pressão aumentar a cada dia. Não havia semana livre – quando não estava em estúdio gravando discos, estava na estrada fazendo shows, quando não estava em um canal de TV estava em um set de filmagens. As pessoas esqueciam que Elvis era apenas um jovem de 21 anos de idade que agora assumia responsabilidades enormes, fora a pressão de sempre fazer sucesso nas paradas, de sempre alcançar o topo dos mais vendidos. Diante de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo Elvis começou a ter sérios problemas para conseguir dormir. Ele sempre sofreu de insônia mas agora com a pressão de sua vida profissional as coisas foram piorando cada vez mais. Elvis não conseguia relaxar quando ia para a cama – seu pensamento ficava a mil, ele pensava nas obrigações do dia seguinte, no que teria que enfrentar, no lançamento de seus novos discos. Alarmada pelo estado de Elvis sua mãe Gladys mandou um de seus primos para acompanhar Presley nas viagens. Gladys temia que seu filho tivesse um ataque de sonambulismo durante as excursões e caísse pela janela de algum quarto de hotel nas cidades pelas quais passava.

Assim não era raro ele passar dias sem dormir, mesmo com as pílulas que tomava. Para aguentar a rotina puxada do dia Elvis começou a tomar estimulantes pela manhã. Claro que ele ainda estava muitos anos distantes da forte dependência que iria desenvolver nos anos seguintes mas isso já era um claro sinal de que algo definitivamente não ia bem. Uma bolinha à noite para tentar dormir bem e outra pela manhã para aguardar a rotina de gravações e shows. O pior acontecia nas noites de concertos. Elvis ficava com a adrenalina a mil e após as apresentações não conseguia relaxar de jeito nenhum. Elétrico era uma boa definição para seu estado após descer do palco. Ficava a noite inteira ligado e na manhã do dia seguinte seguia viagem para outra cidade para fazer um novo show. Isso tudo sem dormir, sem descansar. Uma rotina realmente penosa. Como odiava voar ele cumpria todos os seus compromissos viajando de carro com a banda. Não é preciso muito para entender o quanto isso era desgastante e cansativo. Para aguentar, mais pílulas. A fama e o sucesso começavam certamente a cobrar seu preço. E não era barato.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de setembro de 2025

Elvis Presley - Concertos em 1956

Em 1956 Elvis trabalhou muito. As pessoas geralmente pensam que a fama vem de forma gratuita e espontânea. Nada mais longe da realidade. No ano em que estourou nacionalmente Elvis realizou longas turnês cruzando os EUA praticamente de ponta a ponta, tocando em lugares diversos, um show por noite, geralmente com pouco tempo de descanso entre as apresentações. Viajando de carro na maioria das vezes – pois odiava viajar de avião – Elvis cruzou grandes distâncias para se apresentar nos mais distantes lugares. Sua agenda ficou lotada e Elvis de forma profissional começou a cumprir seus compromissos. Em janeiro cumpriu uma agenda puxada pelo Texas, Missouri e Louisiana. Em fevereiro a mesma coisa, 21 concertos em 30 dias, um recorde absoluto!

Nos meses seguintes as maratonas continuaram sem descanso. Algumas coisas chamam a atenção nesses dias na estrada. A primeira é que o Coronel Parker cometeu alguns erros que até hoje despertam a curiosidade dos especialistas. Ao invés de levar Elvis logo para os grandes centros urbanos como Nova Iorque ou Los Angeles para uma série de concertos em grande escala, o que seria natural para um artista que estava naquele momento se tornando um ídolo nacional, Parker agendou para Elvis uma interminável série de apresentações por cidades do interior. Esse modus operandi iria se repetir de certa forma até mesmo na década de 70. Isso foi bom ou ruim para Elvis? Em termos financeiros seria bem melhor fazer poucos shows com um público enorme em grandes centros pois a repercussão seria bem maior. Porém em termos de aproximação do ídolo com seu público, mesmo aquele morando em lugares distantes, a estratégia acabou sendo positiva pois por onde Elvis passava nesses lugares jamais era esquecido depois. Assim no auge de seu sucesso ao invés de Elvis estar em Nova Iorque se apresentando para uma grande massa ele estava em Randolph, Missouri, tocando em um colégio de high school.

Por falar em Nova Iorque Elvis esteve na cidade várias vezes durante o ano de 1956 mas foi para lá para se apresentar nos programas de TV ou gravar músicas para a RCA em seu estúdio local. Por que não se apresentou ao vivo por lá também? Só mais tarde, depois de muito assédio por parte de empresários é que o Coronel Parker agendou shows em cidades melhores. Em abril Elvis finalmente saiu de sua zona de conforto, formado pelos Estados do Sul onde se encontrava seu público mais fiel, para ir finalmente para a costa oeste onde havia maiores centros urbanos e um público mais sofisticado. Fez uma apresentação em San Diego. E foi somente em junho que ele finalmente se apresentou ao vivo em Los Angeles para cantar pela primeira vez ao público da cidade no Shrine Auditorium. Na ocasião se apresentou para várias estrelas de Hollywood que foram conferir se ele era mesmo tudo o que diziam no palco. Esse show também foi uma forma encontrada pelo Coronel Parker para entrosar o cantor com a comunidade artística local. Esses concertos porém foram exceções à regra e logo Elvis estava de volta ao sul para continuar com seus shows em lugares como Savannah, Augusta e Richmond. De todas essas apresentações a que mais lhe marcou ocorreu em 4 de julho, dia da independência dos EUA, quando se apresentou em sua querida Memphis, no Russwood Baseball Park. Muitos familiares e amigos queridos vieram assistir ao show e confraternizaram com ele depois nos camarins. Elvis estava felicíssimo em cantar na cidade para um grande público. Além disso a data era uma de suas preferidas, pois sempre a celebrava com muitos fogos e animação com as pessoas mais próximas a ele.

O ano de compromissos foi terminando. Elvis realizou uma turnê muito bem sucedida pela Florida em agosto, culminando com uma importante apresentação numa das mais musicais cidades americanas, New Orleans, na Louisiana. Era um teste de fogo pois praticamente todos em New Orleans são envolvidos de uma forma ou outra com o cenário musical e lá Elvis tinha realmente que fazer uma boa apresentação, mostrar serviço. Seu show agradou, inclusive á população negra local, de uma musicalidade ímpar. O ano de correria terminou oficialmente para Elvis no dia 15 de dezembro quando finalmente se despediu do Louisiana Hayride, em Shreveport.

O saldo final do ano foi muito positivo. Elvis trabalhou demais, viajou como nunca em sua vida, conheceu outros públicos, outros ares e conseguiu consolidar sua fama e sucesso em nível nacional. Tanto esforço e trabalho resultaram em um retorno financeiro excepcional. Em dezembro o Wall Street Journal informou que Elvis tinha se tornado um dos artistas mais bem pagos dos EUA naquele ano com renda bruta total de US$ 22 milhões de dólares. Nada mal para alguém que só tinha 21 anos de idade. Em pouco mais de um ano Elvis Presley havia se tornado o mais novo milionário do país. Nada mais justo para quem ganhou sua fortuna com muito esforço e trabalho duro. O futuro prometia ser de muitas glórias e êxitos porém Elvis em pouco tempo logo teria alguns dissabores. Mas essa é uma outra história...

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de setembro de 2025

Elvis Presley - Las Vegas, 1956

Tudo na vida tem seu tempo certo. Se ainda não deu certo é porque ainda não é a hora. Um exemplo claro disso aconteceu com Elvis Presley em Las Vegas no ano de 1956. Hoje o nome Elvis é instantaneamente associado a Vegas por causa de suas temporadas de enorme sucesso na cidade durante a década de 70. O que poucos sabem (ou se lembram) é que Elvis foi para Vegas bem no começo de sua carreira em 1956 e as coisas não saíram tão bem como ele planejava. Na verdade a temporada de Elvis em Las Vegas, a única que fez na década de 50, foi uma ideia infeliz de Tom Parker que com uma incrível falta de visão jogou o artista errado no lugar errado na época errada. Por que Elvis não deu certo em Las Vegas naquela ocasião? Muito simples de entender.

Nos anos 50 Elvis era um cantor jovem, cantando uma música essencialmente vibrante (chamada Rock ´n`Roll) feita e produzida para a juventude em geral. E o que era Las Vegas em 1956? Basicamente uma cidade-show feita para um público bem mais velho, aposentado, que ia para a cidade gastar suas economias de uma vida nas roletas de Nevada, Estado onde o jogo era legal e liberado. Havia nitidamente uma divergência entre o público que ia aos showrooms dos cassinos de Vegas e o cantor Elvis. A chamada cidade do pecado era o lar de cantores e artistas muito diferentes de Presley. Ele certamente não deveria estar lá, naquele momento.

Elvis na ocasião se apresentou com a orquestra de Freddy Martin e isso definitivamente nada tinha a ver com sua música. O marketing foi equivocado e bobo, vendendo Elvis como um “cantor atômico”! Na primeira noite Elvis subiu ao palco e logo percebeu que tudo seria diferente. O público, formado por casais em bodas de prata, aplaudiu timidamente o cantor e sua banda. Não havia gritos e nem animação na plateia, apenas uma ou outra tosse de algum fumante inveterado. O clima era tão ruim que Elvis não conseguiu se soltar, ficar à vontade. Aparentando nervosismo cometeu alguns erros, tentou contar algumas piadas mas a recepção gelada o deixou desnorteado. No outro dia a crítica sobre a apresentação de Elvis foi ruim. Um crítico escreveu: “Para os adolescentes que gritam em seus shows Elvis Presley pode ser considerado um gênio mas para o público ontem que o assistiu no Hotel Frontier ele foi apenas um furo. O conteúdo lírico de suas músicas é sem sentido e seu grupo musical com apenas 3 componentes é tosco”. A reação foi tão ruim que até o Coronel Parker entendeu que havia cometido um erro ao jogar Elvis na arena daquele público, formado pelo mesmo setor conservador e reacionário que odiava a ginga e o idioma musical do artista.

Elvis havia assinado por um determinado período com o hotel New Frontier mas queria mesmo era dar o fora de Las Vegas o quando antes. O baterista do grupo de Elvis, D.J. Fontana, deu seu veredito: “Não acho que aquele público estava preparado para Elvis. Ele fazia muito sucesso com uma plateia mais jovem mas não com aquele tipo de gente. Nós tentamos trabalhar com a orquestra de Freddy Martin mas não tinha muito a ver com nosso som. Mesmo assim fomos profissionais e tentamos fazer o melhor que podíamos para agradar”. Para tudo não se transformar em um fiasco completo o Coronel Parker resolveu lotar o hotel com um grupo de fãs adolescentes de Elvis para agitar um pouco as coisas. No sábado em que isso aconteceu Elvis finalmente realizou um bom concerto. Mas isso aconteceu apenas naquela ocasião e logo Elvis estava de novo se apresentando para o público “quadrado” de Vegas.

Liberace, um cantor extravagante que se apresentava no hotel Riviera veio dar uma força a Elvis mas ao lado do cantor só conseguiu fazer palhaçadas e macaquices. A temporada havia sido um fiasco e todos se conformaram com isso. Elvis realizou os últimos shows e finalmente se viu livre da verdadeira “arapuca” que havia se transformado Las Vegas para ele. Ironicamente a cidade o receberia de braços abertos em 1969 quando ele voltou para brilhar lá como nunca em sua carreira. Isso porém só aconteceria anos depois. Sobre sua estadia na cidade na década de 50 Elvis foi realista e brincou: “Coloquei o maior ovo da minha carreira em Las Vegas”.

Pablo Aluísio.